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Entrevista ao Pe. Amedeu

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Neste diálogo, Pe. Amedeo Porcu, relata os últimos 6 anos vividos como presidente, fala sobre desafios da associação e sobre a força do Anúncio do Evangelho.

A assembleia coincide com um aniversário importante para a Comunidade. Este ano se celebra 40 anos de fundação: um convite a olhar o caminho percorrido e a imaginar o futuro. Quais são os seus sentimentos em relação ao passado e quais as expectativas para os próximos anos?

Se penso no percurso feito até agora, não posso não ver a fidelidade de Deus e a bondade do povo que nos acompanhou em todos estes anos. As provações, os momentos difíceis não faltaram, mas sempre sentimos, ao redor da Comunidade, a amizade da parte de muitos que caminharam conosco.

Inclusive a Igreja nos reafirmou várias vezes a confiança no nosso carisma e nos repetiu que a Comunidade é um dom para o povo e para a Igreja. Começamos 40 anos atrás sem nada, mas sentíamos o chamado de Deus, para o qual arriscamos a nossa vida. Naquela época éramos um grupo de poucos jovens e, desde logo, as confirmações da Providência divina chegaram não somente através de pequenas doações materiais, mas sobretudo nas estradas que Deus ia abrindo, a começar pela aprovação de Dom Sennen Corrà, bispo de Chioggia, que foi um verdadeiro pai para nós, e nos anos seguintes, a acolhida dos bispos dos lugares das nossas missões.

Olhando para trás, há muitos motivos que me levam a agradecer pela fidelidade de Deus e pela amizade das pessoas, que nunca foram somente destinatárias do nosso amor, mas também sujeitos ativos de evangelização, de partilha com os pobres, com os irmãos.

Em relação ao futuro, o olhar não pode não ser otimista. Estes 40 anos de caminhada nos dizem que Deus está à obra. O nosso compromisso é entender, colocando-nos à escuta dos eventos, dos sofrimentos e dos desejos dos irmãos que estão ao nosso lado, quais respostas devemos dar hoje, que não pode ser a mesma de ontem. Se pensarmos só em quanto a pandemia mudou e mudará nosso modo de viver, as nossas demandas e as nossas angústias, devemos interrogar-nos sobre as estradas novas para chegar a cada homem e mulher e sermos portadores daquela palavra de esperança que só o Evangelho e o Senhor podem dar.

Para mim, é cada vez mais evidente a potência do Anúncio do Evangelho no coração e na vida dos homens e como ele dá esperança e força. Creio que o nosso compromisso para o futuro deverá ser saber caminhar como comunidade ao lado do povo, saber escutá-lo, continuar a construir família inclusive com esses irmãos e irmãs. Deus nos que exatamente lá, entre eles.

Encontro de formação na Casa Mãe de Villaregia nos anos 90: a Comunidade è composta por pessoas de diversos estados de vida, que desejam se comprometer juntas para a missão.

Continuar a ser expressão viva do carisma de fundação requer uma fé “em movimento”, capaz de interpretar os tempos que mudam e responder às novas demandas que a humanidade apresenta. Como é possível uma Comunidade diferente por vocações e estados de vida e distante por geografia?

A nossa complexidade é uma riqueza porque nos permite ter olhares diversos sobre a realidade: o do missionário que vive na Comunidade, o de um casal missionário inserido na sociedade ou de uma missionária no mundo que vive no mundo do trabalho. Estar presentes em 8 países diferentes nos permite colher não só o batimento cardíaco da Europa e da Itália, mas também da África e da América Latina e esperamos um dia da Ásia: esse é o grande sonho que temos.

Com certeza, é um olhar que deve se deparar não só com essas dimensões, mas alargar-se a outros horizontes. Também nos ajuda o encontro e a escuta entre nós, o diálogo com e entre as Comunidades e, como Comunidades, colocarmos em escuta da Igreja e dos territórios nos quais trabalhamos, em particular dos pobres.

Gosto muito da imagem de São Paulo, sobre o corpo com muitos membros: cada um tem seu lugar, sua função, seu serviço, mas somos um único corpo.

Pe. Antonio Perretta com os hóspedes da Casa da Misericórdia, em Maputo (Moçambique)

Nestes anos, o senhor visitou todas as missões, encontrou diversas culturas e situações sociais. Entre todos os momentos vividos como presidente da Comunidade, existe uma história, uma pessoa, um episódio que lhe tenha marcada particularmente?

O encontro mais significativo com as diversas realidades locais foi com os membros agregados. Nos vários encontros vividos com eles, em diversas comunidades no mundo, me transmitiram a alegria e o reconhecimento por caminhar juntos e como o fato de ter encontrado a Comunidade Missionária pelo caminho tenha mudado a vida de muitos deles. Como também a nossa vida foi mudada graças ao encontro com estes irmãos de povos diferentes.

Foi bonito ver como a Comunidade tenha sido para eles instrumento de crescimento na solidariedade e proximidade, sobretudo em relação dos irmãos deles. Nutro muita gratidão para com eles que trabalharam em todos estes anos nas várias missões: há casais que se conheceram, casaram e formaram nas nossas Comunidades.

Um encontro particular foi com a Comunidade de Arecibo, em Porto Rico. Fiquei impressionado pelo compromisso dos leigos, também por um motivo da história deles. Lá os católicos compreenderam que eles são “igreja”, compreenderam que cabia a eles levarem em frente a fé. A característica mais bonita da ilha é exatamente perceber-se como “povo de Deus” e não como indivíduos singularmente: são igreja porque estão juntos.

Admirei nestes anos também muitos exemplos de pessoas que se colocaram a serviço dos mais pobres gratuitamente. No Burkina Faso e na Costa do Marfim, as escolas de alfabetização vão em frente graças ao trabalho de muitos voluntários que oferecem o tempo deles para ensinar aos irmãos a ler e escrever e esse “milagre” na Costa do Marfim se repete há 25 anos. Isso me confirma que somente juntos podemos colocar o amor em movimento.

Procissão eucarística em São Paulo.

Pe. Amedeo, o que o senhor fará a partir do dia 20 de julho?

Antes de tudo, vou tirar alguns dias de descanso, mesmo porque a organização desta assembleia que será online, foi bem puxada. Sinto que preciso de um espaço de silêncio, de oração e reflexão para reelaborar estes anos, recoloca nas mãos de Deus o serviço desenvolvido e me inserir na Comunidade em que serei enviado.

Para o futuro, não tenho grandes programas; meu maior desejo é partir de novo em missão, minha vida é esta: comunidade e missão. Vou me colocar nas mãos do novo ou da nova presidente, estarei a serviço e vou procurar fazer bem o que me pedirem para fazer.

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