A vocação, em sentido amplo, é uma resposta constante ao Deus que chama constantemente.
É considerado como um processo aberto que se desenvolve ao longo da vida, pois é construído permanentemente. Implica descobrir quem sou, como sou e para onde quero ir, o que implica viver em constante atitude de discernimento.
Todos nós temos uma vocação na vida. Cada pessoa deve realizar um desígnio específico, um projeto de amor que o Criador colocou em seus corações e que espera sua realização.
Por isso é insubstituível, e sua vida, irrepetível. Desta forma, o valor e a tarefa de cada pessoa no mundo são únicos.
Deus sempre tem a iniciativa. Quando Deus chama, coloca desejos, inclinações e aptidões na natureza da pessoa, que pouco a pouco lhe mostram o caminho a seguir. Frequentemente, Deus usa intermediários para guiar a pessoa até descobrir aquele desígnio.
O projeto vocacional não é orientado apenas para o bem de quem o realiza e para a sua própria felicidade, mas é pensado para o bem dos outros. Traz sempre consigo a responsabilidade de cuidar da vida e da salvação dos outros. Neste sentido pode-se dizer que toda vocação é para a missão.
Neste ponto, a resposta óbvia é não, pensei rapidamente quando fiz a pergunta. Mas é realmente tão óbvio? Infelizmente, não parece, embora seja fundamental para a vida cristã, ter consciência de que realmente não existem vocações de “elite” ou de segunda classe. A coisa mais importante é começar do começo: o Batismo.
Os documentos da Igreja definem (não com estas palavras) o sacramento do Batismo como o “porta” de entrada na vida cristã, algo como uma espécie de adesão. Uma peculiaridade dessa adesão é que ela é irrevogável, você não pode cancelar a assinatura. Esta consequência do Batismo é conhecida como caráter. Como falam alguns documentos no batismo recebemos a consagração batismal, então pelo Batismo somos todos consagrados. Sim, você leu corretamente, se você é batizado, você é consagrado. A palavra consagrar pode ser definida como: tornar alguém ou algo sagrado, dedicar, oferecer uma pessoa ou coisa a Deus por adoração ou voto, dedicar algo com grande eficiência e ardor a um determinado fim. O Batismo nos torna iguais em dignidade para cumprir uma determinada finalidade ou vocação e, mesmo que seja por caminhos diversos, para «confessar diante dos homens a fé que de Deus receberam por meio da Igreja» [Lumen Gentium 11].
O resto da nossa vida ou a “descoberta” da nossa vocação consiste em encontrar a melhor forma de desenvolver e viver plenamente esta consagração batismal. Os leigos dão testemunho dessa fé, santificando-se no mundo [6] e transformando-o, enquanto os consagrados “preanunciam a ressurreição futura e a glória do reino celeste” [Lumen Gentium 44].
É muito importante tomar consciência que todos nós somos chamados, de diversas maneiras, a tornar o Reino de Deus presente na história. É urgente tomar consciência dos efeitos que poderia ter o fato de levar a sério a vocação leiga e da sua importância na transformação da realidade dos tempos em que vivemos. É urgente que, quem faz parte da Vida Consagrada e do clero, também tomem esta consciência para deixar o espaço adequado para a ação de cada fiel. É isso: não existem vocações superiores às outras, porque todas têm a sua raiz no Batismo.
* Para aprofundar o assunto aqui tratado pode consultar: Vita Consecrata n. 14, 26, Lumen Gentium n. 10, 17, Christi fideles laici n. 15
Na realidade, muitos se sentiram chamados por Deus quando já estavam em plena vida profissional: Santo Agostinho era um excelente advogado, São Francisco de Assis havia escolhido a carreira dos jovens senhores da época. Ainda hoje são muitas as pessoas que descobrem o chamado de Deus depois de terem escolhido e, muitas vezes, já exercendo uma profissão.
Deus moldou o coração de cada um para que seja feliz, doando-se e pertencendo a alguém. No casamento, esse alguém é o casal, na consagração o Alguém é Deus.
Então, a vocação está escrita dentro de cada pessoa. Descobri-la é uma aventura e tanto! Se você sente uma inquietação interior, o desejo de algo mais que o preencha… Procura! Não importa onde você está e o que está fazendo.
Deus nos fala de muitas maneiras, suscitando em nós emoções, sentimentos e pensamentos, quando o adoramos na Santa Eucaristia, quando escutamos a sua Palavra, quando ouvimos ou reconhecemos um testemunho cristão, quando contemplamos uma imagem sagrada, quando lemos um livro, contemplamos alguma situação de necessidade… Discernir é tentar descobrir aonde tudo isso nos leva, o que não podemos fazer sozinhos, porque corremos o risco de não sermos objetivos.
No discernimento vocacional, quando chega o momento de orientar a vida para uma escolha mais definida, seja ela matrimonial, sacerdotal ou consagrada, missionária ou laical, mas também quando temos que tomar decisões importantes para a nossa vida, é importante ter alguém que nos ajude a ver o que o Espírito sugere, uma pessoa que nos ilumina com a sua sabedoria e experiência, um orientador espiritual que é uma “mediação” concreta da paternidade do Senhor e da maternidade da Igreja, que nos acompanha.
Na Bíblia, como na história da Igreja, há muitos exemplos de pessoas que cresceram na fé vivendo uma profunda comunhão espiritual com outros irmãos ou irmãs. Gosto muito do texto em que Eli ajuda progressivamente o jovem Samuel a compreender que a voz que dizia “Samuel, Samuel” era o chamado do Senhor, (1Sm 3,1-10).
Falando do acompanhamento, o Papa Francisco nos diz que “a vida espiritual não é diferente da vida humana. Se um bom pai, humanamente falando, é tal porque ajuda o filho a ser ele mesmo, tornando possível a sua liberdade e levando-o a tomar grandes decisões, assim também é um bom pai espiritual quando substitui a consciência das pessoas que confiam a ele, não quando responde às perguntas que essas pessoas carregam em seus corações, não quando domina a vida daqueles que lhe são confiados, mas quando de maneira discreta e ao mesmo tempo firme é capaz de indicar o caminho, de oferecer respostas para diversas dúvidas, ajudar no discernimento”.
O orientador espiritual pode ser um sacerdote, uma consagrada ou um leigo, uma pessoa humana e cristãmente madura. O importante é que se procura alguém que o acompanhe e o ajude a descobrir a sua vocação: confie nele, tenha vontade de fazer uma viagem e seja sincero.
São casais que vivem a sua vocação matrimonial sentindo-se chamados, juntamente com outros irmãos e irmãs de outros estados de vida, a um serviço missionário ad-gentes na Igreja através do carisma trinitário expresso pela Comunidade Missionária Villaregia.
Ou seja, no seu caminho de crescimento, um casal pode descobrir-se chamado por Deus a viver um carisma que dá uma “cor” e um estilo particular à sua relação e ao seu ser família. Isto os move a “construir uma família” com os outros, sendo Comunidade, para ser anúncio do amor de Deus para toda a humanidade.
Os casais missionários dedicam suas vidas a tudo o que corresponde à sua relação de casal, à vida familiar, ao mundo do trabalho e às suas obrigações, e também dedicam energia e tempo na Comunidade de Villaregia para a missão ad-gentes da Igreja, com especial atenção aos mais pobres. Eles dão tempo, força, dons e habilidades para oferecer a eles onde quer que a Comunidade seja chamada a servir.
Alguns casados vivem experiências missionárias em outros países, por tempo limitado, sempre respeitando seus compromissos e obrigações familiares. Mas todos sentem o chamado a viver na certeza de que a missão é mais uma dimensão de “ser” do que de “fazer”. Sendo casados e sendo Comunidade, sentem-se chamados a viver a alegria do Evangelho.
Claro que a beleza dessa vocação é ser sinal do amor de Deus, esteja onde estiver, na família, com os amigos, no bairro, no trabalho, na rua, no ônibus, no trem, no mercado, em cada lugar.
Deus está em toda parte, de maneira real na Eucaristia, nos sacramentos, na Bíblia, em cada homem e de maneira especial nos pobres, para experimentar que Deus está ao nosso lado, que não nos abandona, que Ele vive conosco, nas alegrias e que nos sustenta nas dificuldades, é um Deus próximo que está em cada pessoa que está ao nosso lado e que também está em nós, para estar perto dos outros.
Quando compreendemos que Deus nos chama para ser sinal do seu Amor, surge o medo, porque temos consciência dos nossos limites, ao mesmo tempo que surge uma paz que nos diz: “Aprenderás com os teus limites e com as tuas incapacidades; Quem AMA SOU EU, você tem a vida toda para aprender a amar como EU, seus limites vão te ajudar a entender e acolher quem é frágil como você.
Zoraida, missionária do terceiro núcleo de nossa Comunidade, compartilha em seu testemunho de que é possível se consagrar a Deus por meio do trabalho e da convivência com a família.
“Faz 24 anos que me lancei nessa aventura, confiando no AMOR PROVIDENTE DO SENHOR, não me faltou um só dia, está sempre ao meu lado, na criança que te sorri, no avô que te cumprimenta, quando alguém grita missionária para me cumprimentar… Mas também está em quem dorme debaixo da ponte destruído pelas drogas, em quem vive nos parques embebedando-se, talvez para esquecer a sua solidão, a sua dor, em Jaime, cuja mente não vê a realidade e prefere comer do lixo a um pão limpo, aí estás Jesus para me lembrar que continuas sofrendo em cada irmão que sofre e a constante interrogação na mente, no coração, no oração: como posso aliviar sua dor?
No trabalho, todos os dias é um desafio ser sinal do seu amor, procurando trabalhar juntos, colocando os próprios dons a serviço e destacando e acolhendo os dons dos colegas, se alegrando com as conquistas e assumindo juntos os erros.
Quando você chega à casa cansado do dia, mas em casa é a família que espera, um amor, um carinho, é Jesus quem te dá força para continuar amando… e no silêncio da noite você fica a sós com o Senhor, com o seu Marido, o seu Amigo, o seu Pai, conta-lhe o seu dia e reza pelo o que viveu, pelo o que viu, pelo o que encontrou, ria das alegrias, mas também chore pelos sofrimentos, as dores que compartilharam com você, ou também chore porque não foi capaz de Amar, pela sua fragilidade que venceu, mas Deus em sua infinita misericórdia te faz experimentar uma paz interior, que te dá forças para recomeçar
Recomeçar com a confiança de que não estou sozinho neste caminho, que somos uma Comunidade de irmãos, uma família, que nos damos amor fraterno, amizade, que se sustenta no amor de Deus”.
A oração não é uma arte fácil, mas a perseverança nela requer compromisso constante e força de vontade. Porque muitas vezes também nós nos distraímos com tantas coisas, as notícias da família, o ministério pastoral, a paróquia, até o pensamento do que vamos cozinhar hoje nos distrai.
Rezar é encontrar Deus Pai, quando rezamos corretamente entramos em uma relação profunda com Deus, nos colocamos em condições de poder acolhê-lo e dialogar com Ele, como se estivéssemos encontrando um amigo. Saímos da nossa realidade para mergulhar na realidade de Deus, no seu tempo, num espaço que é lugar onde nos encontrarmos em diálogo juntos.
Se nos lembrarmos da passagem bíblica em que Jesus se retirava para lugares solitários para rezar, os discípulos queriam entender o que ele fazia, aprender dele sem incomodá-lo, sem perturbar sua solidão. Aprender uma frase é fácil. Trata-se de memorizar uma fórmula, uma forma de recitá-la, as regras a adotar ao pronunciá-la. Mas isso é apenas exterioridade, e muitas vezes a exterioridade, se é um fim em si mesma, é inútil.
A oração tem a sua própria poesia, a sua própria beleza, e só compreendendo-a podemos começar a rezar de forma correta, dirigindo-nos a Deus para sermos ouvidos e encontrar uma experiência que nos enriqueça neste momento e nos permita enfrentar cada dia em da maneira certa.
A oração nasce da vida, funde-se com ela, inspira-se e faz parte dela. Caso contrário, é apenas um exercício de memória, uma prática devocional vazia e estéril, talvez pontual em sua execução, mas vazia de significado, sem coração e sem amor.
Certamente não foi assim que Jesus orou. A sua oração não se contentava com palavras, com fórmulas bem-ditas. Jesus orou com todo o corpo, mente, coração, espírito. Sua oração foi uma experiência transcendente, que quebrou todo o molde, subverteu os sentidos, envolveu Sua pessoa completamente. É isso que Ele nos pede quando oramos, esse é o segredo da Sua oração.
Ao imitar Jesus, simplesmente seguindo suas instruções, podemos aprender a orar corretamente. Tudo já está escrito, tudo contido em suas palavras simples e claras. De fato, Jesus disse: “Quando orarem, não sejam como os hipócritas que gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. Tu, por outro lado, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai em secreto e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. Ao orar, então, não desperdice palavras como os pagãos, que acreditam que estão sendo ouvidos por meio de palavras. Portanto, não seja como eles, porque seu Pai sabe do que você precisa, mesmo antes de você acreditar”.
No plano de Deus estamos todos incluídos. Desde o início da vida, crianças, até os idosos, cada um tem um espaço e uma razão de existir.
É na juventude que somos convidados a nos fazer as perguntas com base nas quais tomaremos decisões e que darão direção a nossa vida. A preocupação genuína que cada jovem sente em encontrar seu lugar na vida é um chamado que Deus coloca no coração para dar-lhe sentido e missão concreta, para realizá-la e colocá-la a serviço dos outros.
Na exortação apostólica Christus Vivit, (2019) o Papa Francisco nos lembra que o primeiro chamado que todo jovem tem é a amizade com Cristo “Isso é valioso, porque coloca toda a nossa vida voltada para o Deus que nos ama, e nos permite compreender que nada é fruto de um caos sem sentido, mas que tudo pode ser integrado num caminho de resposta ao Senhor, que tem um desígnio precioso para nós” (ChV 248); Em relação à vocação, lembra-nos que é […]reconhecer para que fui feito, para que estou nesta terra, qual é o projeto do Senhor para a minha vida. Ele não vai indicar todos os lugares, horários e detalhes que eu escolherei com prudência, mas há uma orientação da minha vida que Ele deve me indicar porque ele é meu Criador, meu oleiro, e preciso ouvir a sua voz para deixar ser moldado e guiado por Ele. Então serei o que devo ser e também serei fiel à minha própria realidade. (ChV 256).
Um aspecto que gostaria de destacar destas palavras é que o chamado de Deus sempre pedirá fidelidade a quem somos, para o que precisamos reconhecer nossa história, conhecer a nós mesmos, e é isso que nos leva a respostas mais autênticas. É assim que o jovem ou a jovem deve colocar-se em relação com Ele, escutando e caminhando.
O chamado de Deus também se descobre na prática e no empenho de ações concretas – a relação com a família, os estudos, o trabalho, o serviço – iluminados pela luz de Cristo.
Deus sempre vai querer o bem, e a plenitude de todos os seus filhos, e nessa confiança temos que caminhar e responder.
Missionários e missionárias são pessoas que entregaram suas vidas a Deus a serviço do próximo. Seu dia é organizado para cumprir esse propósito.
Acima de tudo, o dia do missionário começa com a oração. Colocamos Deus em primeiro lugar. Por isso, começamos nosso dia com a meditação da Palavra de Deus e a oração das Laudes. Após este primeiro momento, temos um tempo de trabalho manual juntos. Para nós o trabalho é muito importante e, sobretudo o trabalho braçal porque nos forma a sermos solidários e a compreender quem tem de trabalhar todos os dias para conseguir o pão de cada dia.
Depois, cada missionário ou missionária, de acordo com seu programa pessoal, se organiza para realizar os serviços que são seus. Há quem tenha que cozinhar, outros que se dediquem à pastoral da paróquia ou da Comunidade, há também quem trabalhe em obras de promoção humana. Se o missionário for sacerdote, procura estar disponível para qualquer pedido de confissão, unção dos enfermos ou outros sacramentos.
Em nossos dias há um lugar especial para a celebração eucarística. É o momento mais importante do nosso dia, porque é o momento de nos purificarmos do negativo do nosso dia e levar tudo o que vivemos ao altar do Senhor.
Outro momento do dia do missionário é o almoço e o jantar. Representam um forte momento familiar em que compartilhamos experiências vividas.
Assim como nosso dia começa com oração, também termina com oração.
O dia sempre tem algo para fazer, uma pessoa que solicita um diálogo, etc, e como nossa vida é de entrega, cada missionário se entrega a cada eventualidade que a Providência apresenta.