Conhecemos Sergio e Caterina, responsáveis pela Pastoral da Família na Comunidade de Belo Horizonte. Eles nos apresentaram seus filhos e nos contaram sobre seu compromisso com outros casais.
Sua história familiar é marcada pela presença de Sofía, sua filha mais velha, que nasceu com deficiência física e mental. A relação afetiva que vivem na família com os outros filhos permitiu a Sofia desenvolver uma grande capacidade de comunicação, o que lhe permite interagir com os irmãos e com outras pessoas com grande facilidade.

O que significa a caminhada com a Comunidade na vida de casal e de família?
Descobrimos o amor de Deus pela humanidade e compreendemos que o nosso amor de esposos não é só para nós, mas para o mundo inteiro.
Portanto, nossos quatro filhos sabem que também temos que cuidar de tantos outros irmãos e irmãs. Ao mesmo tempo, sabemos que Sofía, David, Cassio e Miguel são, acima de tudo, filhos de Deus para retribuir ao mundo.
Quando eram pequenos, juntavam suas economias em um único cofrinho. No final do ano, o valor era dividido igualmente entre os quatro. Uma vez fomos surpreendidos ao decidirem que a quantia deveria ser dividida por cinco porque parte dela seria doada a alguém necessitado.
Quais são os desafios da família brasileira hoje?
O país vive um momento de grande polarização econômica e política e isso afeta diretamente as famílias. Há divisão e isolamento, uma visão egoísta e individualista da pessoa humana. Em alguns municípios foram promulgadas leis que condenam quem faz obras de caridade. A propaganda oficial diz que a caridade incentiva à mendicidade e as associações que trabalham na área social são acusadas de promover a pobreza.
Como as famílias têm vivido a pandemia?
Acompanhar as famílias nesse período nos fez perceber o quanto cada uma delas sofreu financeiramente e emocionalmente. A convivência próxima a que foram forçados, em vez de criar mais unidade familiar, causou muitas divisões e conflitos.
Durante esses dois anos, continuamos a nos encontrar online com o grupo que acompanhamos, formado por 12 casais com mais de 10 anos de casados. Cada casal testemunhou como os encontros foram um recurso importante para superar a crise. Durante este período, decidimos não tratar de temas específicos de formação, mas sim dar tempo para partilharem os medos, desafios e dificuldades por que passavam, fomentando o conhecimento e a amizade entre eles.
Durante a pandemia, um dos integrantes do grupo perdeu o emprego de motorista do ônibus que levava as crianças para a escola. Além do problema econômico, a depressão não demorou a aparecer. Compartilhar no grupo o que ele estava vivendo estimulou a solidariedade de outras famílias que o abordaram com doações de alimentos, mas acima de tudo o apoiou a reinventar seu trabalho. O ônibus escolar tornou-se um ônibus para transporte de mercadorias ou grupos de adultos. Os próprios integrantes do grupo cuidaram da divulgação nas redes sociais. Redescobrir o local de trabalho e sentir-se tão amado e valorizado não apenas melhorou sua situação financeira, mas também o fez se sentir muito melhor.

Quais atividades a Comunidade propõe às famílias?
Há propostas de formação e evangelização. Quanto à formação, existem dois grupos missionários, um para casais com menos de 10 anos de casados e outro para casais com mais de 10 anos. As pequenas comunidades missionárias locais são grupos de casais que se encontram nas casas para partilhar a Palavra de Deus segundo um itinerário comum.
Outro campo de formação que a Comunidade cuida é o Centro Amor à Vida, no qual estamos envolvidos com outros dois casais para apoiar aqueles que têm dificuldades em ter filhos, mesmo através do ensino de métodos naturais. Os casais participantes vêm de toda a diocese e durante a pandemia, graças às conexões online, até mesmo de cidades distantes de Belo Horizonte.
Em relação à evangelização, a Comunidade propõe duas experiências: Caná e Areia ou Rocha. Testemunhamos que o Caná salvou o casamento de vários casais, lembramos de um em particular, que participou com o desejo de dar a si mesmo uma última chance. Após a separação, o marido continuou a frequentar as atividades oferecidas pela Comunidade e, finalmente, conseguiu trazer a esposa e reconciliar-se com ela.
Este retiro sempre atraiu casais de outras cidades, por isso pensamos em levá-lo a outros contextos com o nome de Caná Missão. Até agora, oferecemos principalmente na região de Itabira, a 5 horas de carro de Belo Horizonte, mas há outras 4 ou 5 cidades esperando. Alguns casais dessas cidades têm participado do retiro com a intenção de formar uma equipe para oferecê-lo em seu próprio contexto.
O que vocês desejam para as famílias?
Esperamos sinceramente que todas as famílias se sintam amadas por Deus Pai: que cada família saiba que foi pensada, esperada, e desejada. Saber que a família é projeto de Deus nos dá muita força para transmitir a segurança que nos dá confiar-nos a Ele.