Camila: A alegria de dar tudo 

É verdade que o meu país, o Brasil, se considera uma terra de missão, mas percebi que eu também podia dar muito pelos outros, principalmente pelos mais pobres. E esta porta abriu de par em par meu coração

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Olá a todos, sou Camila, originalmente da cidade de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais no Brasil. Estou na Comunidade Missionária Villaregia desde novembro de 2009 em Belo Horizonte, onde fiz meus primeiros anos de estudo e conhecimento do carisma da Comunidade. Mais tarde passei seis meses na missão de Lima no Peru, em 2016 vim para a Itália para a sede de Lonato del Garda (BS) e desde setembro deste ano estou em Quartu Sant’Elena, Cagliari. 

Falar da vocação à consagração é falar de algo que vai além de nós e que só pode ser compreendido a partir de uma perspectiva cristã, ou seja, de alguém que se sente tão atraído por Cristo que nada pode fazer senão segui-lo radicalmente. Vou tentar relatar minha trajetória e como percebi que o Senhor estava me chamando para esta vocação especial. 

Pertenço à paróquia acompanhada pela Comunidade Missionária Villaregia, em Belo Horizonte, onde fui batizada, recebi a Primeira Comunhão e a Crisma. Então, um missionário me convidou para fazer parte do grupo de jovens missionários, GimVi. No começo, confesso, não fiquei muito entusiasmada, mas depois fui porque, afinal, não tinha nada a perder. Porém, é verdade que dentro de mim já existia um desejo muito forte de ter amizades profundas e verdadeiras, onde eu pudesse ser quem sou e dizer o que pensava. À primeira vista, o grupo de missionários foi muito acolhedor e logo senti que havia algo de especial ali: podíamos falar de coisas bonitas, falar abertamente de Deus, cada um ter suas ideias e ao mesmo tempo ser bem recebido. 

A formação no grupo missionário também abriu meus olhos para um mundo maior, para a missão ad gentes, além das fronteiras do meu próprio território. É verdade que meu país, o Brasil, é considerado uma terra de missão, mas percebi que também poderia dar muito pelos outros, principalmente pelos mais pobres. E essa porta escancarou meu coração, porque o mais lindo de tudo isso é que a gente fazia as coisas juntos. Lembro-me das Férias Missionárias onde recolhíamos material reciclável e depois vendíamos, ou das nossas pequenas iniciativas missionárias, fazendo arte na rua, ou vendendo os bolos em frente à igreja. 

A experiência da Missão de Férias em janeiro de 2006 foi uma experiência que me “despertou”, colocando esta pergunta em meu coração: o que o Senhor está me dizendo? Com o grupo de jovens vivemos dez dias de evangelização, visitando o povo, rezando, levando bênçãos, estando no meio do povo, fazendo oficinas e encontros. Depois dessa experiência senti fortemente que Deus queria mais de mim, tanto que me perguntei: e se não fossem apenas dez dias? E se não fosse apenas um mês, ou um ano, e se Deus me pedisse todo o tempo da minha vida? 

A partir dai comecei uma jornada de profundo e belo discernimento. Entretanto, foram muitos altos e baixos, medos e contradições, incertezas e mil dúvidas. Desistir de minhas ideias e abandonar meus planos me custou muito. Eu queria estudar medicina, ser médica seria muito emocionante para mim porque me daria a oportunidade de seguir muitos caminhos. Apesar disso, sempre tive um grande desejo de encontrar paz em minha alma inquieta desde que passei por essa experiência. Não larguei aquele sentimento, cultivando-o por muito tempo, até que, com muita alegria e ao mesmo tempo, sem saber nada do que me esperava, percebi que não poderia fazer outra coisa da minha vida a não ser me doar integralmente para os outros, e este caminho me foi ensinado pela Comunidade Missionária, à qual eu queria pertencer. 

Concluo agradecendo a Deus por ter me dado um grande dom, me chamando para estar mais perto Dele e abrindo meu coração para uma alegria que não é efêmera. Como já disse, percebo cada vez mais que a proposta que Jesus me faz ultrapassa todas as minhas capacidades, mas mesmo assim me chamou. Isso me lembra um provérbio brasileiro: 

Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos

Cada dia é um novo dia para renovar o “sim” que disse há onze anos, e ainda com muita alegria e vontade de me doar, quero dar a minha vida ao Senhor que me deu tudo e por isso me deu me pede tudo.